A dura realidade de quem vive nas ruas: exemplos para transformação
A cena é comum nas grandes cidades brasileiras. Pessoas morando na rua, sem condições adequadas de higiene, passando fome e entregues a diferentes dificuldades - da falta de lar ao vício em drogas. Todas, porém, precisando de ajuda. Felizmente, há gente tentando aliviar a situação de quem está ao relento. Usando a criatividade e abusando da solidariedade, esses voluntários buscam tornar o mundo melhor para todos.
Um exemplo é a iniciativa de Sandra Maggi, que desde a década de 1990 ajuda quem precisa nas ruas de Porto Alegre (RS) com amigos. Naquele tempo, reuniam-se todas as semanas para distribuir canecas de sopa - algo importante para enfrentar o frio do sul, principalmente no inverno. O grupo aos poucos foi crescendo e, em 2004, decidiu se formalizar, gerando a ONG Mãos Unidas.
A partir dela, os cerca de 20 voluntários criaram uma “casa-lar”, que hoje abriga sete pessoas, todas portadoras do vírus HIV. Elas recebem acompanhamento médico, dentário e psicológico de profissionais que não cobram pelo serviço. A capacidade do abrigo já é máxima, porém o grupo continua realizando suas atividades pelas ruas de Porto Alegre, distribuindo alimentos e roupas em caravanas mensais. “Mesmo estando lotados, sempre oferecemos uma mão amiga. Não temos como negar apoio”, diz Sandra.
Para ela, o segredo do trabalho com a população de rua é entender as razões que cada um tem para estar nessa situação. “Ninguém fica na rua por ser vagabundo. Se está ali, é porque há algo mais grave por trás”.
Realidade Invisível
São essas histórias que a dupla André Soler e Vinicius Limatenta decifram por meio do projeto SP Invisível. Com fotos e vídeos, eles dão voz a quem dorme no asfalto em vez de em um colchão.
“O SP invisível é um movimento que busca abrir os olhos e a mente através das histórias dos invisíveis para motivar as pessoas a terem um olhar mais humano”, dizem os criadores. Os relatos por vezes são fortes e quase sempre revelam um histórico de abandono e luta contra vícios e a violência. Casos como de Isaías, que abriu sua vida, marcada pelo abuso de álcool e pelo medo de agressões.
“O que eu menos gosto aqui é o pessoal que mexe com a gente. Eu desvio de um inseto pra não pisar nele e tirar a vida dele. Tem gente que procura o morador de rua só pra bater, queimar. Não dá pra entender. Isso quer dizer que a gente é igual a um inseto”, conta Isaías, um dos entrevistados.
O SP Invisível inspirou projetos semelhantes em outras capitais, como Rio de Janeiro, Porto Alegre e Brasília. Com belas imagens, mostra que os moradores de rua são pessoas cuja vida deve ser respeitada e compreendida – e não ignorada.
Uma forma de obter esse respeito, não só dos outros, como o próprio, é por meio do trabalho. Pensando nisso, a ONG Ocas oferece uma fonte de renda a quem está desempregado e em situação de rua. Há 11 anos, produz uma revista, vendida nas ruas de São Paulo e do Rio de Janeiro a R$5. Deste valor, R$3 ficam com o vendedor, que precisa ter ao menos 18 anos e passar por um treinamento.
Um atrativo é que os moradores de rua não apenas vendem a revista, mas também produzem parte do conteúdo da revista. Ou seja, estão mostrando sua história para o mundo. Desde o início de sua circulação, em julho de 2002, foram vendidos mais de 521 mil exemplares, o que representa mais de R$900 mil destinados diretamente aos vendedores.
Exemplos como esses servem de inspiração, não? Organize você também uma atividade para para ajudar quem vive na rua. Com o inverno chegando, um pouco de calor humano sempre é bem-vindo. Além disso, não deixe de conhecer as ações voluntárias do Portal do Voluntariado Banco do Brasil que tem como objetivo auxiliar pessoas que vivem na rua. Conheça aqui algumas das nossas ações.
Quantas pessoas vivem na rua?
É difícil responder a pergunta acima. A última pesquisa do governo federal, realizada entre 2007 e 2008, apontou 31.922 adultos em situação de rua em 71 municípios pesquisados. O número não inclui a população de rua de grandes cidades como Belo Horizonte, São Paulo, Recife e Porto Alegre. A estimativa do Ministério do Desenvolvimento Social é que, somada a quantidade de gente que vive nas ruas desses municípios, a quantidade chegue a 50 mil pessoas – no mínimo, pois crianças e adolescentes não entraram na conta.
Segundo a pesquisa, a grande maioria das pessoas em situação de rua é masculina (82%) e relativamente jovem, com idade entre 25 e 44 anos (53%). Um terço dorme na rua há mais de cinco anos e apenas 22% passam a noite em albergues ou instituições similares.
A maior parte trabalha de alguma forma, pois 71% disseram exercer algum tipo de atividade remunerada. Apenas 16% dos entrevistados disseram que o dinheiro pedido a quem passa é sua principal forma de renda. O abuso de álcool ou drogas é a principal causa de estarem nessa situação, apontada por 35% das pessoas. Atrás, vêm desemprego (30%) e desavenças familiares (29%).